Falar sobre masturbação não é uma tarefa fácil!



A masturbação, por incrível que pareça, é um, dos fatores responsáveis pelo desinteresse nas aulas!

Precisamos urgentemente derrubar mitos e culpas que cercam o desenvolvimento sexual das crianças e jovens, e orientar sobre a masturbação, pois, por incrível que pareça, é um, dos fatores responsáveis pelo desinteresse nas aulas.

A falta de uma orientação adequada, a ausência do diálogo franco e aberto sobre a masturbação, remete inúmeras crianças a se masturbarem quando bem entendem e em qualquer lugar que se encontrem, inclusive na escola.

Certa tarde, andando pelos corredores, perguntei para o inspetor de alunos se estava tudo bem com as aulas e com os alunos. Para minha surpresa, ele me respondeu:

- Olha, aparentemente está tudo bem, mas estou estranhando o comportamento de uns meninos do 7º ano C. Eles vão constantemente ao banheiro nas trocas de aulas, e atrasam de dez a quinze minutos, alguns professores, não deixam eles entrarem, perdem aulas! Na hora do intervalo ficam banheiro, muitos alunos não vão nem tomar lanche! Perdem a aula após intervalo!

- Que bagunça! – respondi. Vamos verificar o que está acontecendo!

No dia seguinte, fiquei no corredor para observar as saídas. E não é que o inspetor tinha razão! As idas ao banheiro eram exageradas! Conversei com os professores, alguns não perceberam o excesso das saídas, aconteciam nas trocas de professores, outros informaram que três dos meninos alegaram problema de saúde e que tomavam remédios. Entrei em contato com as famílias para saber do problema (pensei em diabetes), tal foi minha surpresa, todos usufruíam da mais perfeita saúde! Avisei que as saídas para o banheiro reduziriam, pois o atraso deles nas aulas atrapalhava o aprendizado.

Alguns dias depois, o inspetor me procurou correndo, apavorado e disse-me:

- Coordenadora, a senhora vai cair para trás, descobri porque os meninos vão ao banheiro a toda hora e porque ficam no intervalo no banheiro! A senhora não vai acreditar!

- Conte-me logo!

- Hoje na hora do intervalo separei uma briga entre os meninos do 7º C, eles trocaram ofensas. No meio da briga um deles soltou sem querer que ia contar para a coordenação que sabia que eles saiam das aulas para se masturbarem! E que no intervalo se masturbavam também!

O Vitor começou a chamar o André de tarado!

- Você é um tarado, não sai desse banheiro, acha que o banheiro é só seu! Tarado! Safado! Tarado! Viciado!
- Foi um horror, coordenadora! A senhora não imagina!

Fiquei alguns minutos em silêncio, coração acelerado, pulsando forte! Teria que falar com os meninos. Que desafio!

Os meninos entraram na minha sala, e em alguns minutos, o Vitor com muita dificuldade colocou:

- Coordenadora, eu não sei o que está acontecendo comigo, mas preciso bater uma...

- Precisa masturbar-se completei...

- Isso! Algumas vezes quando acordo, estou todo melado. Durante as aulas eu fico de pa...

- Excitado? – completei rapidamente.

- Isso... e aí peço para sair, vou até o banheiro e resolvo o meu problema, depois no intervalo vou ao banheiro para bater uma...

- Masturbar-se, completei novamente.

- Isso. E sinto que se demorar para mastur... começa a doer o meu saco!

Conversei com os meninos, e todos sem exceção, informaram que masturbavam-se na troca das aulas e no horário do intervalo. Explicaram que se excitavam durante as aulas, vendo as meninas, e resolviam o problema como podiam.

Expliquei que eles eram garotos normais, cheios de vitalidade física e energia sexual, que a masturbação é natural, que não causa doenças físicas, que não vicia, que não é sinal de doença emocional, que não provoca espinhas e verrugas, que não causa miopia ou debilidade mental, e que o que acontecia durante a noite era a polução noturna (polução=ejaculação) que se excitavam durante o dia vendo as meninas, filmes, novelas, revistas, internet, etc e nos sonhos relembravam essas situações e acabavam ejaculando.

Enfim, expliquei que estavam entrando na puberdade, aprendendo a conhecer o próprio corpo, quebrei alguns preconceitos e tabus com relação à masturbação. Expliquei que apesar de ser uma necessidade física, tem hora e lugar. Indaguei se falavam com seus pais sobre esse tema.

Um deles respondeu que o pai falou por cima: “É normal, meu filho” , sem maiores explicações! Outro disse que a mãe o pegou se masturbando no quarto e deu uma bronca danada! Outro disse que nunca tocou no assunto por sentir vergonha e culpa.

Assim, conclui que apesar dos avanços na compreensão sobre a masturbação na infância e na adolescência, os pais tem dificuldade em dialogar sobre esse tema, para eles é muito desconfortável. Conversei com os pais e alguns encararam o ocorrido com total indiferença, outros, acharam engraçado, fugiram do assunto, outros reagiram reprimindo e castigando. Poucos encararam com naturalidade e orientaram os filhos impondo limites quanto a freqüência, ao momento e local adequado, poucos foram os pais que tiveram uma atitude confiante no ato de conversar com seus filhos sobre a masturbação, pois ainda é cercada de tabus.

O filósofo Berkeley afirma: “ser é perceber e ser percebido”. Concordo com ele. Entrementes, o cotidiano escolar deixou claro, que muitas vezes não percebemos o quanto somos amadores com relação a orientação sexual das nossas crianças e como isso interfere diretamente no processo de aprendizado!

Nenhum comentário: